DO CACAU AO CHOCOLATE
A história do cacau e, consequentemente, do chocolate, tem sua origem bastante remota e não se pode determinar quem o descobriu ou utilizou pela primeira vez.
O pouco que se sabe está envolto pela mitologia. Conta uma lenda asteca que Quetzalcoatl, deus da lua, roubou uma árvore de cacau da terra dos filhos do sol, para presentear seus amigos, os homens, com aquela delícia dos deuses.
Essa lenda deve ter influenciado Carlos Linnaeus, botânico sueco, que classificou a planta, denominando-a Theobroma cacao do grego Theo (Deus) e broma (alimento).
Apesar de tudo, tem-se certeza de um ponto: o cacau é originário das regiões tropicais das Américas do Sul e Central.
Quando os espanhóis, sob o comando de Fernando Cortez, iniciaram a conquista do México, em 1519, notaram que os nativos ofereciam aos deuses, estranhos tabletes escuros. Ficaram intrigados, mas logo descobriram sua origem: eram feitos dos frutos do cacaueiro, uma árvore quase sagrada para os índios.
Os astecas chamavam de cacahuatl o fruto da árvore e de tchocolath a bebida fria e espumante, preparada por ele. Foi, aliás, com uma taça dessa bebida que o imperador Montezuma recebeu Cortez pela primeira vez, em sinal de boas-vindas e de consideração.
No começo, entretanto, os espanhóis não apreciaram o chocolate. Cortez teve que impor-lhes seu uso, pois, como escreveu ao imperador Carlos V, "uma taça da preciosa bebida permitia aos homens caminhar um dia inteiro sem necessidade de outros alimentos".
"Pelas virtudes maravilhosas" e uso cada vez mais difundido, o cacau acabou se transformando em moeda. Dez favas valiam um coelho. E por 100 favas de primeira qualidade adquiria-se uma escrava.
O CACAUEIRO
O cacaueiro, também chamado palmeira-cacau, é uma planta da família das sterculiaceas e sua árvore tem uma particularidade: dá ao mesmo tempo brotos, flores, folhas e frutos.
A altura do cacaueiro varia entre 4 e 12 m., mas na América tropical pode chegar a 15 m. Tem uma casca fina e lisa. Sua madeira é rosada, porosa e leve.
Os frutos são alongados, cheios de sulco. Seu tamanho e confomação, variam conforme a espécie, variedade, solo, clima e qualidade da árvore. Medem, em média, de 12 a 20 cm. de comprimento. Pesam entre 300 e 600 g. e têm no interior uma polpa branca, viscosa, contendo de 20 a 50 sementes: as favas de cacau.
Existem mais de 16 espécies de cacau, mas duas são as mais comuns: Theobroma cacao L (criollo venezuelano) e Theobroma leiocarpun Bern, o nosso cacau forasteiro ou cacau roxo, como é mundialmente conhecido. O cacau roxo se subdivide nestas quatro variedades: Comum, Pará, Maranhão e Catongo.
ONDE HÁ CACAU?
Árvore tropical, o cacaueiro é cultivado em áreas tropicais e subtropicais, caracterizadas pela fertilidade do solo e pelo equilíbrio das condições climáticas, pois é bastante sensível aos excessos de chuva e sol.
O cacau chegou ao Brasil, pelo Estado do Pará, em 1746, sendo posteriormente levado para o Estado da Bahia, onde a cultura se desenvolveu em bases econômicas.
O cacaueiro exige temperatura sempre superior a 20 graus e, por isso, sua faixa ideal para cultivo, no Brasil, fica entre os Estados do Espírito Santo, Bahia e Rondônia. O maior produtor nacional é a Bahia, com 75% da colheita brasileira (era de 96,9% antes do surgimento do fungo da vassoura de bruxa).
O Brasil liderou a produção mundial de cacau no período entre 1905 e 1910, ocupando hoje o 5º lugar, com uma previsão de produção para a safra internacional 2.000/2001 de 150.000 toneladas. Hoje, a liderança mundial da produção de cacau pertence à Costa do Marfim-África, com 1.332.000 toneladas.
A INDÚSTRIA CHOCOLATEIRA NO MUNDO
A partir de 1520, a Espanha começou a receber as primeiras remessas de cacau. Foi nesse país que surgiram as primeiras indústrias chocolateiras, no fim do século XVI.
Em 1659, Luiz XV concedeu a David Chaliou, oficial da rainha, o privilégio de "fabricar e vender, por 19 anos, uma composição que se chamava chocolate" . Nascia, assim, a primeira fábrica francesa de chocolate.
Em 1778, o francês Doret desenvolvia uma máquina para moer, misturar e aglomerar a massa de cacau. Em 1819, em Paris, era construída por Pelletier a primeira fábrica que utilizava o vapor no seu processo de fabricação. No mesmo ano, François Louis Cailler fundava em Vevey a primeira fábrica suíca de chocolate. Em 1831, Charles-Amedée Kholer se estabelecia com outra fábrica em Lausanne, Suiça.
Em 1.765 surge a primeira fábrica de chocolate nos Estados Unidos, a Cia. Baker. Assim nascia uma verdadeira indústria chocolateira, com os processos mecânicos substituindo os métodos artesanais.
CHOCOLATE COM LEITE
Na Suiça, a indústria do leite condensado daria impulso novo à do chocolate. Em 1870, em Vevey, o laboratório de Henri Nestlé ganhou um vizinho, Daniel Peter, que ali se instalara com uma pequena fábrica de chocolate. A recente descoberta de Henri Nestlé - que associara leite à farinha - deu a Peter a idéia de juntar leite ao chocolate que, até então, se compunha unicamente de cacau e açúcar.
O chocolate tornou-se alimento de primeira necessidade e fazendo parte da ração de emergência dos soldados nas Primeira e Segunda guerras mundiais, denominada ração "D".
A INDÚSTRIA CHOCOLATEIRA NO BRASIL
Em 1972, 226 anos depois da chegada do cacau no Brasil, a situação do mercado brasileiro de chocolate não era das mais promissoras; nem para os produtores de cacau e nem para a indústria do chocolate.
Para todos, a grande pergunta era: por que o brasileiro consome chocolate em tão pequena quantidade? Pela qualidade do produto? Não, a indústria brasileira já possuía tecnologia capaz de produzir chocolate à altura dos melhores do mundo, com uma grande variedade de produtos e sabores. Então, seria o clima tropical? Nada disso, a Colombia na zona tórrida, consumia 10 vezes mais que o Brasil. Seria o poder aquisitivo do brasileiro? Também não, mais uma vez a Colombia como exemplo. Lá o poder aquisitivo não era maior que o nosso e os números provam o sucesso do produto naquele país.
Pesquisas foram feitas e a resposta veio do maior juiz: o consumidor. Até 1972 o chocolate era visto pelo consumidor brasileiro apenas como guloseima, coisa para crianças e mulheres da classe A, assim mesmo em ocasiões especiais. Havia também muitos preconceitos contra ele: "engorda", "é quente", "dá espinhas", "ataca o fígado", "dá alergia", "estraga os dentes" e outros menos cotados. E mais, a pesquisa revelou que as donas de casa se consideravam culpadas de má administração do orçamento doméstico se incorporassem às compras habituais um ítem "supérfluo" e dispensável, o chocolate era visto apenas como guloseima. O perfil do consumidor era totalmente negativo. Todos ficavam relutantes diante do produto, menos as crianças, é claro, as grandes consumidoras. Assim, era necessário fazer alguma coisa, mudar a trajetória do produto.
Grandes soluções são sempre precedidas de grandes idéias
Em 1971, em reunião realizada no Equador, os países produtores de cacau decidiram lançar a idéia da realização de CAMPANHAS NACIONAIS, com o objetivo de incentivar o consumo do chocolate. Os produtores brasileiros trouxeram a idéia para cá e iniciaram a sua divulgação, por intermédio do Comitê Nacional de Expansão do Consumo Interno do Chocolate, órgão criado no âmbito da ABICAB e do qual participaram as empresas fabricantes de chocolate e o próprio Governo, através da CEPLAC - Comissão Executiva do Plano de Recuperação da Lavoura Cacaueira.
O objetivo principal dessa união de esforços era promover a Campanha Institucional, no Brasil, para incentivar o consumo do chocolate, mudando a imagem do produto perante os consumidores. E, a partir de sua realização, criar o hábito de consumo, dando ao chocolate um novo e permanente dimensionamento no mercado.
A Campanha Institucional do Chocolate, realizada por 11 anos sem interrupção, nos principais meios de comunicação, baseou-se, fundamentalmente, nos aspectos alimentícios, gustativos, energéticos e de preço, com os temas:
- O MAIS GOSTOSO DO CHOCOLATE É SER ALIMENTO - CHOCOLATE ANIMA A VIDA - COMA CHOCOLATE. ENERGIA QUE DÁ ÁGUA NA BOCA - CHOCOLATE, ENERGIA PARA TODO DIA - CHOCOLATE É ENERGIA QUE NÃO PESA NO SEU BOLSO
Graças a esse trabalho, foi possível mudar a imagem do chocolate, junto aos consumidores nacionais. Em 11 anos, a produção nacional do chocolate cresceu de forma constante e expressiva, 163%. Quando do início da Campanha, em 1973, a produção brasileira de chocolate era de 46.000 toneladas. No seu final, em 1983, era de 121.000 toneladas. O crescimento do consumo se manteve, mesmo após o término da Campanha Institucional Coletiva.
Hoje, o chocolate no Brasil é considerado por todo o universo consumidor como um alimento moderno, que repõe as energias gastas no dia-a-dia.
A LINGUAGEM DO CHOCOLATE
Em muitos países, os chocolates são obrigatórios no Dia dos Namorados. A linguagem do chocolate também é usada em outros tipos de comunicação. Dar uma caixa de bombons pode significar "feliz Natal", "feliz Ano Novo", "feliz aniversário", "boa viagem", "desculpe-me", "saúde" etc. Muitos pais recompensam o comportamento exemplar ou o bom desempenho escolar dos filhos com bombons e tabletes. Transformado em coelhos e ovos, que representam a Ressureição de Cristo, o chocolate adoça a Páscoa das crianças e adultos. Na vida de cada um de nós, é o doce que se mistura às melhores lembranças da infância.
BIBLIOGRAFIA: 1. "Do Cacau ao Chocolate" - Nestlé 2. Material promocional da Campanha Institucional do Chocolate - ABICAB
3. https://www.abicab.org.br
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